
O Acidente Vascular Cerebral (AVC), popularmente conhecido como derrame, permanece como uma das principais causas de morte no Brasil. Entre 1º de janeiro e 5 de abril de 2025, foram registrados 18.724 óbitos causados por AVC, o que equivale a uma morte a cada sete minutos, de acordo com dados do Portal da Transparência dos Cartórios de Registro Civil. Em 2024, o número total de mortes pela mesma causa chegou a 84.878.
Esses dados refletem uma urgência crescente em torno do combate ao AVC, tanto no Brasil quanto no cenário global.
Mortalidade global por AVC pode chegar a 10 milhões por ano até 2050
De 1990 a 2021, o AVC foi responsável por 7,3 milhões de mortes no mundo. As projeções indicam que, até 2050, esse número pode saltar para quase 10 milhões de óbitos anuais. No entanto, especialistas apontam que há avanços importantes na redução da taxa de incidência.
Apesar do envelhecimento da população, a taxa global de incidência de AVC caiu 21,8% nas últimas três décadas, enquanto a mortalidade reduziu 39,4%. No Brasil, os resultados são ainda mais expressivos: queda de 47,7% na incidência e 62,2% na mortalidade.
Contudo, o ritmo de progresso tem diminuído. Entre 2015 e 2021, a redução anual média no país foi de apenas 0,75%, um contraste com a média de 2,09% observada entre 1990 e 2021.
Mesmo com os avanços, o AVC ainda representa um enorme desafio para o sistema de saúde, principalmente nas áreas de prevenção, diagnóstico precoce e reabilitação. Diante desse cenário, foi criada em abril a Coalizão Mundial de Ação contra o AVC (Global Stroke Action Coalition).
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Iniciativas e políticas públicas brasileiras
O Brasil tem se destacado em algumas frentes. A neurologista Sheila Martins, presidente da Rede Brasil AVC e uma das coordenadoras da coalizão, destaca iniciativas como:
- Uso de medicamentos trombolíticos no Sistema Único de Saúde (SUS).
- Implantação de protocolos de emergência para acelerar o tratamento.
- Criação de 119 centros especializados no atendimento ao AVC, financiados pelo Ministério da Saúde.
No entanto, segundo Martins, o país ainda enfrenta barreiras importantes para garantir acesso igualitário ao tratamento.
A distribuição dos centros especializados é altamente desigual. Dados da Rede Brasil AVC revelam que 77% dessas unidades estão localizadas nas regiões Sul e Sudeste.
Essa disparidade tem consequências diretas na mortalidade. Um estudo publicado na revista Frontiers in Neurology mostra que a taxa de mortes por AVC em instituições sem centros especializados chega a 49%, enquanto em locais com estrutura adequada o índice cai para 17%.
Diagnóstico precoce e combate à hipertensão são prioridades
A hipertensão é o principal fator de risco para o AVC, porém, apenas 20% dos hipertensos no Brasil são diagnosticados. A coalizão defende que todos os pacientes tenham a pressão arterial verificada ao chegar a um posto de saúde.
Segundo Sheila Martins, “o controle da hipertensão, isoladamente, poderia reduzir pela metade os casos de AVC”. Portanto, investir no diagnóstico precoce é uma das estratégias mais eficazes para salvar vidas.
O processo de recuperação após um AVC envolve diversas etapas. Muitos pacientes enfrentam dificuldades para acessar tratamentos essenciais, como fisioterapia, fonoaudiologia e acompanhamento psicológico.
A Global Stroke Action Coalition propõe:
- Inclusão de sobreviventes e cuidadores na formulação de políticas públicas.
- Ampliação do acesso a terapias de reabilitação.
- Criação de planos nacionais específicos para AVC.
- Financiamento de tecnologias e intervenções inovadoras.
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O cuidado com o AVC deve ser contínuo e integrado
O combate ao AVC exige uma abordagem sistêmica e permanente. Isso inclui desde a prevenção com controle da pressão arterial até a reintegração do paciente à vida cotidiana. Sheila Martins resume: “o cuidado não começa no hospital e nem termina com a alta; ele precisa ser contínuo, integrado e acessível em todas as fases”.
Portanto, para reduzir o impacto do AVC no Brasil, é fundamental investir em políticas públicas que promovam prevenção eficaz, tratamento rápido e reabilitação humanizada, garantindo que nenhum paciente fique para trás.