BCE alerta sobre riscos econômicos na Europa devido à dependência de pagamentos dos EUA

A Europa tem revisto os seus vínculos com os Estados Unidos desde que o presidente Donald Trump declarou que a União Europeia foi criada para melhorar os interesses americanos e anunciou diversas medidas em resposta.

A dependência da Europa em relação aos prestadores de pagamento dos Estados Unidos aumenta a sua vulnerabilidade à pressão económica, alertou o economista-chefe do Banco Central Europeu (BCE), Philip Lane, nesta quinta-feira. Ele destacou essa questão como um risco significativo no meio ao fraquecimento das relações entre Europa e EUA.

Nos últimos anos, a Europa tem reavaliado as suas conexões com os EUA, especialmente após declarações do ex-presidente Donald Trump, que afirmou que a União Europeia foi criada para prejudicar os interesses americanos e ameaçou com medidas retaliatórias.

Um ponto de preocupação é que empresas americanas como Visa e Mastercard processam atualmente cerca de dois terços das transações com cartão na zona do euro. Além disso, plataformas tecnológicas como Apple Pay, Google Pay e PayPal desempenham um papel importante nas transações de varejo.

“A dependência da Europa de fornecedores estrangeiros em níveis alarmantes”, afirmou Lane durante um discurso em Cork, na Irlanda. “Essa situação expõe à Europa os riscos de coerção económica e limita a nossa autonomia estratégica, restringindo o controlo sobre partes essenciais da nossa infraestrutura financeira.”

Ele destacou que o cenário global está se movendo em direção a um sistema financeiro mais multipolar, onde sistemas de pagamento e moedas são cada vez mais utilizados como ferramentas de influência geopolítica.

Lane enfatizou que, em 13 dos 20 países da zona do euro, os sistemas nacionais de pagamento com cartões foram substituídos por alternativas internacionais, reforçando a necessidade de avanços na criação de uma moeda digital europeia.

“O euro digital é uma proposta promissória para reduzir esses riscos e garantir que a zona do euro mantenha soberania sobre o seu futuro financeiro”, declarou Lane.

Essa moeda digital funcionaria de forma semelhante ao dinheiro físico, permitindo transações diretas no varejo sem a intermediação de provedores de cartões. Os fundos seriam armazenados em uma carteira digital, possivelmente em um aplicativo de celular, representando um crédito direto ao banco central, sem passar por empresas como Visa ou Mastercard.

O BCE tem investido anos no desenvolvimento de uma moeda digital, mas a implementação ainda depende de legislação em toda a União Europeia. Apesar dos esforços, o progresso legislativo tem sido lento, gerando frustração em algumas autoridades.

O banco central informou que decidiu até o final de 2025 avançar para a próxima etapa dos preparativos para o euro digital.