
O bilionário Bill Gates anunciou que pretende doar praticamente toda a sua fortuna estimada em US$ 200 bilhões (cerca de R$ 1,1 trilhão) até 2045, por meio da Fundação Gates. Em uma entrevista ao Financial Times, o fundador da Microsoft também fez duras críticas a Elon Musk, apontando-o como responsável indireto pela morte de crianças pobres, devido aos cortes na ajuda humanitária dos Estados Unidos.
A decisão foi revelada durante o 25º aniversário da fundação, em uma publicação intitulada “Meu novo prazo: 20 anos para doar praticamente toda a minha riqueza”. Desde que se afastou do conselho da Microsoft, em 2020, Gates tem se dedicado exclusivamente à filantropia.
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Durante a entrevista, Gates destacou, com grande preocupação, a contínua redução dos investimentos norte-americanos em saúde global. De acordo com ele, esses cortes, liderados por Elon Musk por meio do Departamento de Eficiência Governamental, resultaram, de forma particularmente grave, em impactos devastadores — entre eles, o encerramento do financiamento a um hospital em Moçambique, responsável por prevenir a transmissão do HIV de mães para seus bebês.
“A imagem do homem mais rico do mundo matando as crianças mais pobres do mundo não é bonita”, afirmou Gates ao Financial Times.
Além disso, ele ironizou: “Gostaria que Musk visitasse as crianças agora infectadas pelo HIV, para entender o impacto direto de suas decisões”.
Essas mudanças foram justificadas por suspeitas infundadas de que recursos estariam sendo desviados para o Hamas, o que, segundo Gates, demonstra uma visão equivocada e perigosa sobre a ajuda internacional.
Cortes na USAID colocam em risco milhões de vidas
A Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), responsável por cerca de 40% da ajuda humanitária global, sofreu cortes severos sob a liderança de Musk no departamento. Essa agência era crucial no financiamento de vacinas, combate à desnutrição e ações emergenciais em países vulneráveis.
Essas ações afetam diretamente programas que salvam vidas diariamente, principalmente de crianças em regiões pobres da África e da Ásia.
Gates quer evitar o legado de “morrer rico”
Em sua publicação oficial, Gates reforçou que não quer ser lembrado como alguém que “morreu rico”, enquanto milhões enfrentam pobreza extrema e doenças evitáveis.
“Existem problemas urgentes demais no mundo para acumular recursos que podem ajudar as pessoas”, declarou.
Ele também evitou citar diretamente o presidente dos EUA, mas deixou claro seu descontentamento com a atual condução da política externa humanitária. Gates enfatizou sua intenção de ajudar a erradicar doenças como pólio, malária e sarampo, além de reduzir significativamente a mortalidade infantil e materna.
Pressão sobre países ricos e reconhecimento à África
Gates não poupou críticas a outros países desenvolvidos, como Reino Unido e França, questionando se manterão seus compromissos com os mais pobres. Por outro lado, elogiou a postura de nações africanas, que se adaptaram aos cortes dos EUA ajustando seus próprios orçamentos para manter os programas essenciais.
Ele também alertou que, apesar dos esforços individuais, o progresso global depende do apoio governamental em larga escala, especialmente dos Estados Unidos.
Fundação Gates intensifica ritmo de doações
Desde sua fundação, em 2000, a Fundação Gates já destinou mais de US$ 100 bilhões a causas como vacinação, combate à Aids, malária e tuberculose, além de iniciativas como o Gavi e o Fundo Global.
O plano é encerrar a fundação após a doação de 99% da fortuna pessoal de Gates, contrariando as expectativas de que ela continuaria ativa por gerações. Apenas 1% do patrimônio ficará para os herdeiros.
Segundo ele, até 2026, o orçamento anual da fundação pode atingir US$ 9 bilhões, fortalecendo ainda mais o impacto das ações nos próximos anos.
Filantropia como resposta à omissão governamental
A decisão de Bill Gates de acelerar suas doações é uma resposta direta aos retrocessos na política de ajuda internacional liderada pelos EUA. Ao criticar Elon Musk e outros bilionários por suas posturas, Gates reforça a importância de uma filantropia ativa, estratégica e orientada a resultados concretos.
Neste cenário, o papel de grandes fundações e da cooperação internacional se torna ainda mais crucial para salvar vidas e combater a desigualdade global.