Como a IA transformará o banco do futuro? Especialistas analisam

A tecnologia está redefinindo o setor bancário, revolucionando a forma como os serviços e crédito são oferecidos. A personalização será o principal diferencial nessa nova era.

O mercado financeiro é um dos líderes em investimentos em tecnologia, especialmente no Brasil, que sempre se destacou por sua inovação, desde a época da hiperinflação até avanços como o pagamento instantâneo e o open finance.

Nos últimos anos, o progresso tem sido tão acelerado que, hoje, 70% dos brasileiros se sentem confiantes para realizar transações financeiras pelo celular, segundo um levantamento da Matera Insights.

Esse cenário, entretanto, apresenta desafios para as instituições financeiras, que precisam atender clientes cada vez mais exigentes. Esses usuários buscam interfaces intuitivas e, acima de tudo, personalizadas. Nesse contexto, a Inteligência Artificial (IA) surge como uma ferramenta essencial para oferecer experiências sob medida, atendendo às necessidades individuais.

“O sucesso de ferramentas como Pix, finanças abertas e plataformas digitais mostra que o cliente está pronto para adotar a tecnologia. O próximo passo é uma personalização, que será impulsionada pela IA para melhorar a experiência do usuário”, explica Ricardo Ferreira, diretor de operações da Matera Insights, especializada em soluções tecnológicas financeiras.

Quase 96% das instituições financeiras já utilizam IA, com investimentos superiores a R$ 47 bilhões, de acordo com a Febraban.

Ampliando horizontes

A personalização viabilizada pela IA também promete iniciativas destravar há muito discutidas, como o cadastro positivo e o microcrédito. As análises mais contribuíram para ajudar as instituições a entender melhor o perfil dos clientes, oferecendo soluções às suas capacidades financeiras.

Ferreira destaca que a IA possibilita novas formas de avaliação financeira. “Muitas pessoas que agora estão bancarizadas não têm histórico de crédito. A IA permite um olhar mais abrangente, analisando comportamentos e padrões que antes não eram considerados”, afirma.

Entre junho de 2018 e dezembro de 2023, o número de usuários ativos no sistema financeiro brasileiro cresceu 103,2%, passando de 77,2 milhões para 152 milhões, segundo o Banco Central. A inclusão financeira teve dois grandes impulsos: o auxílio emergencial, distribuído durante a pandemia, e o lançamento do Pix em 2020.

Do retrato ao filme

Para Alexandre Bueno, gerente sênior da consultoria Capco, a IA transforma o modo como o histórico financeiro é analisado. “O cadastro positivo antes funcionava como uma foto do passado financeiro da pessoa. Com IA, é possível enxergar um filme, considerando a evolução e as situações do cliente”, explica.

Essa visão também beneficia o microcrédito, essencial para pequenos negócios. Com a IA, os bancos podem analisar padrões de receita e orientar melhor os empreendedores, tornando-se verdadeiros parceiros na gestão de seus negócios.

Pix: um divisor de águas

Desde seu lançamento, o Pix se consolidou como uma das principais ferramentas de pagamento. Em 2024, movimentou R$ 26.455 trilhões, um aumento de 54% em relação ao ano anterior, segundo o Banco Central.

Educação financeira como prioridade

Apesar do avanço na inclusão financeira, a educação sobre finanças ainda é um desafio. Cerca de 65% dos entrevistados pela Matera Insights disseram confiar na contratação de crédito pelo celular. Contudo, 66% dos que haviam contratado crédito recentemente não se registraram da taxa de juros aplicada.

Outro exemplo é o Pix Parcelado, que, mesmo antes do lançamento oficial pelo Banco Central, já é oferecido por algumas instituições. Muitas pessoas não compreendem completamente os custos envolvidos, tomando decisões por impulso devido à facilidade de acesso.

“A personalização das ofertas permite que os bancos entendam melhor o perfil de seus clientes, oferecendo soluções alinhadas às suas necessidades e objetivos”, conclui Ferreira.

Uma pesquisa da Matera Insights, realizada com quase mil clientes bancários e 15 executivos, revelou não apenas os desafios enfrentados pelo setor, mas também oportunidades de inovação que podem transformar a experiência financeira para todos.