A imunização infantil, uma das ferramentas mais eficazes contra doenças evitáveis, está enfrentando uma ameaça crescente. Cortes significativos no financiamento internacional, principalmente vindos dos Estados Unidos, estão colocando em xeque programas de vacinação em diversos países em desenvolvimento. Segundo agências das Nações Unidas, os impactos já se comparam aos retrocessos causados pela pandemia de Covid-19.
O Efeito dos Cortes no Sistema Global de Imunização
Relatórios da Organização Mundial da Saúde (OMS), com dados de 108 países de baixa e média renda, revelam que quase metade dessas nações teve suas campanhas de vacinação de rotina e de emergência prejudicadas. A escassez de recursos afetou diretamente o fornecimento de vacinas, a logística de distribuição e a vigilância epidemiológica — pilares fundamentais para a prevenção de surtos.
Além disso, doenças como sarampo, febre amarela e meningite voltaram a registrar aumento de casos, revertendo conquistas importantes da saúde pública global. A diretora executiva do Unicef, Catherine Russell, alertou que “os retrocessos atuais se assemelham aos observados durante o auge da Covid-19”.
EUA Reduzem Apoio e Aumentam Incertezas
Historicamente o maior financiador de iniciativas globais de saúde, os Estados Unidos anunciaram cortes substanciais em suas contribuições para organizações como a Unicef, OMS e especialmente a Gavi, a Aliança para Vacinas. Um documento interno revelou que cerca de US$ 300 milhões anuais deixarão de ser destinados à Gavi como parte da política “América Primeiro”, que prioriza interesses domésticos.
Embora o Departamento de Estado dos EUA tenha indicado um novo representante para o conselho da Gavi, ainda não está claro qual será o compromisso financeiro do país nos próximos anos. Essa indefinição aumenta a pressão sobre a rodada de financiamento da Gavi, prevista para junho, na qual a organização pretende captar US$ 9 bilhões para manter suas operações entre 2026 e 2030.
Crescimento de Doenças Infecciosas: Um Alerta Global
Desde 2021, os casos de sarampo têm crescido continuamente. A meningite voltou a preocupar a África em 2024, e a febre amarela registrou aumento após uma década de queda. Esses dados mostram que a fragilização dos sistemas de imunização tem consequências diretas e graves.
Sania Nishtar, diretora executiva da Gavi, reforçou que ainda é possível controlar o avanço dessas doenças. No entanto, isso depende da manutenção e ampliação do financiamento global. Sem esse suporte, milhões de crianças ficam expostas a riscos desnecessários.
Investir em Imunização é Proteger o Futuro
Os cortes no financiamento à vacinação infantil representam uma ameaça real à saúde pública mundial. Embora a pandemia tenha imposto desafios inéditos, a recuperação não pode ser comprometida por decisões políticas que desvalorizam a cooperação internacional.
Portanto, é essencial que doadores mantenham seus compromissos com organizações como a Gavi, garantindo que crianças ao redor do mundo tenham acesso a vacinas seguras e eficazes. Proteger os mais vulneráveis não é apenas uma questão humanitária — é uma estratégia inteligente e necessária para o futuro da saúde global.