Os ministros das Relações Exteriores das principais democracias ocidentais se encontram no Canadá nesta quinta-feira (13), em um momento de crescente tensão entre os aliados dos Estados Unidos e o presidente norte-americano, Donald Trump. O motivo principal são as recentes mudanças na política externa dos EUA em relação à Ucrânia e a imposição de novas tarifas comerciais.
Os representantes do Reino Unido, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão e Estados Unidos, além da União Europeia, se reúnem na cidade turística de La Malbaie, localizada nas colinas de Quebec. Durante dois dias, as reuniões abordarão temas que, anteriormente, eram tratados com maior consenso.
Entre os principais tópicos da agenda está a atualização sobre as negociações do secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, com autoridades ucranianas em Jeddah, na Arábia Saudita. Kiev indicou disposição para apoiar um cessar-fogo temporário de 30 dias na guerra contra a Rússia.
No entanto, antes mesmo do início da cúpula, a elaboração de uma declaração final conjunta tem sido desafiadora.
A decisão do governo americano de aplicar tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio gerou reações imediatas, com medidas retaliatórias adotadas pelo Canadá e pela União Europeia, evidenciando as tensões comerciais.
Washington também impôs restrições à linguagem do documento final sobre a Ucrânia, resistindo a uma declaração específica contra a chamada “frota sombra” da Rússia – um sistema de transporte marítimo usado para driblar sanções –, enquanto exigia uma posição mais rígida em relação à China.
Na segunda-feira, Rubio alertou que os EUA não apoiariam uma redação que pudesse prejudicar os esforços diplomáticos para aproximar Rússia e Ucrânia da mesa de negociações. Em entrevista coletiva na quarta-feira, ele enfatizou que qualquer posicionamento do G7 deveria reconhecer os esforços dos Estados Unidos para encerrar o conflito.
Diplomatas do grupo acreditam que os desdobramentos positivos das discussões em Jeddah podem facilitar as negociações sobre a Ucrânia.
Desde a posse de Trump, em 20 de janeiro, a política externa americana tem se distanciado de um apoio incondicional à Ucrânia, pressionando por uma resolução rápida do conflito e incentivando os países europeus a assumirem maior responsabilidade na crise, sem se comprometer explicitamente com seu envolvimento nas futuras negociações. Ao mesmo tempo, os laços entre Washington e Moscou foram reaproximados.
Tarifas e tensões diplomáticas
Até mesmo o Japão, tradicionalmente dependente da proteção militar dos EUA, sentiu os impactos da nova postura americana.
“Está complicado. Talvez seja melhor esperar pelo G8”, comentou ironicamente um diplomata europeu.
Trump sugeriu recentemente a possibilidade de restaurar o G8 com a reintegração da Rússia, que foi excluída há 11 anos após a anexação da Crimeia.
Nenhum outro país tem sentido mais fortemente as mudanças na política dos EUA do que o Canadá.
As relações entre Washington e Ottawa atingiram um dos momentos mais delicados da história, com Trump ameaçando impor tarifas sobre todas as importações canadenses e até cogitando, em declarações polêmicas, a incorporação do país como o 51º estado americano.
“No G7, vamos nos concentrar nesses desafios. Essa reunião não trata de uma dominação sobre o Canadá”, afirmou Rubio em entrevista, destacando a atipicidade da atual relação bilateral.
Essas declarações, no entanto, não foram suficientes para tranquilizar o governo canadense. A ministra das Relações Exteriores do Canadá, Melanie Joly, afirmou na quarta-feira que pretende adotar uma abordagem combativa durante o encontro do G7.
“Em cada reunião, abordarei a questão das tarifas, buscando coordenar uma resposta conjunta com os europeus e pressionar os Estados Unidos”, declarou Joly.
Diplomatas europeus também demonstram interesse em usar a cúpula como uma oportunidade para avaliar diretamente o grau de influência de Rubio sobre a política externa americana.
Trump tem conduzido negociações internacionais com o auxílio de diversas autoridades externas ao Departamento de Estado, o que tem gerado preocupação entre os aliados, principalmente em relação a temas como a Ucrânia e as tensões no Oriente Médio. Algumas declarações vindas de Washington têm sido vistas como inconsistentes, aumentando a incerteza sobre o futuro das relações internacionais sob sua administração.