
Em meio a um cenário de crescente tensão econômica, Estados Unidos e China retomam as negociações comerciais em Genebra neste sábado (10). O encontro entre as duas maiores potências econômicas do mundo ocorre em um momento crítico, marcado por tarifas recordes e temores de desaceleração global. A expectativa dos mercados é alta, ainda que analistas apostem em avanços limitados nesta primeira rodada de conversas formais.
Pressão de tarifas históricas trava comércio entre as potências
As tarifas bilaterais atingiram níveis sem precedentes nos últimos meses. Washington elevou as taxas sobre produtos chineses para 145%, enquanto Pequim respondeu com tarifas de até 125% sobre itens americanos. Essa escalada tarifária praticamente estagnou o comércio entre os dois países, afetando cadeias de suprimentos e pressionando a inflação em diversos setores da economia global.
Além disso, os impactos dessas medidas já se fazem sentir: empresas que dependem de insumos importados da China sinalizam aumentos de preços, enquanto investidores acompanham com cautela os desdobramentos. Portanto, o ambiente é de urgência para buscar soluções que reduzam as tensões e evitem uma recessão internacional.
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Primeira rodada de negociações: mais simbólica do que prática
Apesar da importância do encontro, as expectativas em torno de avanços concretos permanecem baixas. Esta será a primeira conversa formal desde a nova rodada de aumentos tarifários e, segundo analistas, o foco será alinhar posições e abrir caminho para um diálogo contínuo.
Pelo lado americano, a delegação é liderada por Scott Bessent, atual secretário do Tesouro e ex-gestor de fundos de hedge. Ele defende a redução das tarifas, classificando-as como “insustentáveis”. Ao seu lado está Jamieson Greer, experiente negociador comercial que atuou no governo Trump. Já o conselheiro Peter Navarro, conhecido por sua postura inflexível, não participa da rodada.
Representando a China está o vice-primeiro-ministro He Lifeng, responsável por coordenar a política econômica do país. A composição completa da delegação chinesa não foi divulgada, o que levanta especulações sobre uma possível inclusão de temas sensíveis, como o combate ao tráfico de fentanil — uma das exigências centrais de Washington.
Investidores atentos aos sinais do mercado
O retorno do diálogo entre EUA e China é visto como um passo positivo, mesmo que os resultados imediatos sejam limitados. As tarifas em vigor não apenas dificultam o comércio bilateral, mas também geram distorções em escala global, aumentando custos para consumidores e empresas.
Segundo o economista Eswar Prasad, ex-diretor do FMI na divisão chinesa, a retomada das negociações de alto nível já representa um avanço estratégico. Para ele, esse gesto pode suavizar o discurso entre as potências e abrir espaço para acordos futuros.
Além disso, investidores observam atentamente qualquer sinal de flexibilização, uma vez que a manutenção das tarifas pode comprometer as previsões de crescimento e estimular a inflação, especialmente em setores industriais e de tecnologia.
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Trump dá sinais ambíguos sobre as tarifas
Na sexta-feira, o presidente Donald Trump, ainda influente no cenário político americano, declarou que uma tarifa de 80% sobre importações chinesas seria “mais adequada” que os atuais 145%. Apesar disso, indicou que não se oporia à ausência de um acordo imediato, reforçando o tom imprevisível das negociações.
Trump condiciona qualquer redução tarifária a concessões equivalentes da China. A Casa Branca acusa o governo chinês de subsidiar setores estratégicos e vender produtos a preços abaixo do mercado, além de pressionar por uma atuação mais efetiva contra a exportação de precursores do fentanil, substância ligada a milhões de mortes por overdose nos EUA.
Perspectivas: qual lado cederá primeiro?
A China, por sua vez, nega que esteja cedendo à pressão e afirma que só aceitou negociar após pedido formal de Washington. Mesmo que a proposta de reduzir as tarifas para 80% avance, esse nível ainda é considerado elevado e pode comprometer qualquer retomada significativa no comércio bilateral.
Para especialistas, uma medida que poderia destravar o impasse seria o retorno às alíquotas aplicadas antes da escalada tarifária iniciada em abril — quando os EUA impuseram uma tarifa de 34% sobre produtos chineses. Wu Xinbo, diretor do Instituto de Estudos Internacionais da Universidade Fudan, avalia que esse seria um gesto relevante para reabrir negociações mais construtivas.
Além disso, segundo projeções da consultoria Capital Economics, se os EUA reduzirem suas tarifas para 54%, a média efetiva cairia de 23% para 15%. Esse ajuste poderia reequilibrar as expectativas econômicas para o ano, tanto em relação ao crescimento quanto à inflação.
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Diálogos podem abrir caminho para alívio gradual
Embora não se espere um acordo imediato, o reinício do diálogo comercial entre EUA e China pode representar o primeiro passo rumo a um alívio gradual nas tensões econômicas. As tarifas elevadas continuam sendo um entrave significativo para a economia global, e qualquer sinal de moderação será bem-vindo por mercados e investidores.
Portanto, o desfecho das conversas em Genebra será crucial para definir o tom das relações comerciais no restante de 2025. O caminho para um acordo duradouro ainda é incerto, mas a disposição de dialogar já representa um avanço que não pode ser ignorado.