OMC perde força diante da guerra comercial liderada por Donald Trump

A guerra comercial de Trump enfraquece a OMC e coloca em risco o sistema de comércio global. Entenda os impactos e as possíveis consequências.

O papel da OMC no comércio internacional

A Organização Mundial do Comércio (OMC), criada para regular e promover o comércio internacional, enfrenta uma crise sem precedentes em seu 30º aniversário. Com a intensificação da guerra comercial liderada por Donald Trump, a instituição perde relevância, e suas normas deixam de ser respeitadas pelas principais potências. Nesse contexto, surgem dúvidas sobre o futuro da OMC e sua importância na economia global.

O papel da OMC no comércio internacional

Fundada oficialmente em 1995, após os Acordos de Marrakech de 1994, a OMC tem como missão garantir que o comércio entre países ocorra de forma justa, previsível e transparente. Um de seus pilares é a cláusula da Nação Mais Favorecida (NMF), que exige que os países estendam os mesmos benefícios comerciais a todos os seus parceiros — exceto em acordos regionais específicos.

A atual política tarifária dos Estados Unidos, imposta por Donald Trump, vai na contramão desse princípio. Ao aplicar tarifas personalizadas, o governo americano desafia diretamente os fundamentos da globalização e da diplomacia comercial moderna.

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Trump adota medidas unilaterais e desafia as regras globais

Donald Trump adotou uma abordagem comercial agressiva, baseada em ameaças e negociações sob pressão. Seu “tarifaço” atingiu em cheio o sistema multilateral de comércio. Estimativas apontam que, se essas medidas continuarem, o comércio global de bens pode recuar até 1% em 2025, o que representaria perdas bilionárias para a economia mundial.

Em vez de recorrer à OMC para resolver disputas, os EUA passaram a ignorar os canais institucionais. O professor Cédric Dupont, especialista em Relações Internacionais, afirma que os americanos “agem como se a OMC não existisse”, deixando de respeitar as tarifas estabelecidas e os mecanismos legais da organização.

Crise institucional: OMC perde capacidade de arbitragem

A ofensiva americana foi além das tarifas. Desde 2019, os Estados Unidos bloqueiam a renovação dos juízes do órgão de apelação da OMC, essencial para resolver disputas comerciais. Sem novos integrantes, o tribunal acumula processos sem solução, o que compromete a credibilidade da organização.

Mesmo assim, países como Canadá e China continuam apresentando queixas formais contra as tarifas americanas, demonstrando que muitos ainda veem a OMC como um espaço legítimo para negociações comerciais.

EUA suspendem financiamento e podem deixar a OMC

Além de travar a atuação jurídica da OMC, os Estados Unidos também congelaram sua contribuição financeira, que representa 11,4% do orçamento da instituição. Embora isso não paralise a organização de imediato, o gesto agrava a crise. Agora, o temor gira em torno da possibilidade de uma retirada formal dos EUA da OMC.

Se isso ocorrer, países que mantêm laços comerciais estreitos com os americanos — especialmente na América Latina e Central — poderão repensar sua permanência na organização. Como alerta Cédric Dupont, “isso deixaria marcas”.

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Futuro incerto, mas ainda com espaço para reconstrução

Apesar dos ataques liderados por Washington, a OMC continua relevante. Os Estados Unidos respondem por 15% do comércio global, mas os outros 85% ainda funcionam sob as regras da organização. Por isso, manter e reformar a OMC se mostra essencial para preservar a estabilidade econômica internacional.

Enquanto os EUA permanecerem como membros, mesmo que de forma estratégica, continuam acessando dados e monitorando as ações comerciais de outros países — algo que dificilmente irão abrir mão.

A OMC vive uma de suas maiores crises desde a fundação. O ataque direto de Donald Trump às regras do comércio global compromete a credibilidade e a funcionalidade da organização. No entanto, o sistema multilateral ainda representa uma estrutura vital para garantir previsibilidade nas relações comerciais. Cabe ao restante do mundo decidir se irá reconstruir a OMC ou abandoná-la à margem da nova ordem econômica.