As altas temperaturas no Brasil, o aumento do custo do milho e a proximidade da Quaresma estão impulsionando os preços dos ovos, que alcançaram seu maior valor em quase dois anos.
Cenário atual
Entre janeiro e fevereiro, o preço da caixa com 30 dúzias de ovos brancos subiu 69%, passando de R$ 134 para R$ 227. Os ovos vermelhos também tiveram alta expressiva de 61%, saindo de R$ 156 para R$ 252 no mesmo período. Os dados foram analisados com base em históricos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), que monitora os preços desde abril de 2023.
Nos últimos 22 meses, os valores nunca atingiram um patamar tão elevado. Em junho de 2023, o máximo registrado para os ovos brancos foi R$ 203, enquanto os ovos vermelhos chegaram a R$ 225 em maio daquele ano, ambos valores inferiores aos atuais em cerca de 12%.
Desde julho de 2023, os ovos brancos mantiveram-se abaixo de R$ 200, atingindo o menor preço em setembro (R$ 127). No mesmo mês, os ovos vermelhos chegaram ao menor valor, R$ 143.
Fatores que impulsionam a alta
Segundo entidades do setor, o calor intenso tem impactado a produção de ovos. O Instituto Ovos Brasil (IOB) informa que as altas temperaturas afetam a produtividade das aves, reduzindo a oferta e aumentando os custos de produção.
As galinhas, por serem animais de sangue quente, precisam gastar mais energia para regular a temperatura corporal quando expostas a calor extremo. Esse esforço extra pode levar a uma queda de 5% a 10% na produção de ovos, conforme explica Tabatha Lacerda, diretora administrativa do IOB e coordenadora técnica da Associação Brasileira de Proteína Animal. Algumas granjas utilizam climatização para minimizar esse impacto, reduzindo a temperatura interna para cerca de 10ºC e aumentando a produtividade.
Outro fator relevante é o aumento no custo do milho, que é essencial para a alimentação das galinhas, junto com a soja. Desde setembro de 2023, o preço da saca de 60 kg superou R$ 60 e seguiu em alta, chegando a R$ 79 em fevereiro, um aumento de 32%. O IOB destaca que esse aumento de custo acaba sendo repassado ao consumidor.
Demanda crescente e influência da Quaresma
O retorno das aulas também tem impacto no mercado. A pesquisadora Claudia Scarpelin, do Cepea, explica que a demanda por ovos cresce nessa época, pois o alimento é amplamente consumido em merendas escolares e pela população em geral, provocando um desequilíbrio entre oferta e demanda e, consequentemente, uma elevação nos preços.
A chegada da Quaresma também contribui para o aumento nos preços. “Os valores devem permanecer elevados até o final do período, pois tradicionalmente há um aumento no consumo de ovos devido à redução da ingestão de carne vermelha”, afirma Scarpelin.
Efeito das exportações
Os Estados Unidos aumentaram suas importações de ovos brasileiros, totalizando 220 toneladas em janeiro, um aumento de 22% em relação ao mesmo período do ano passado, conforme informa a Associação Brasileira de Proteína Animal. A escassez do produto nos EUA, causada por um surto de gripe aviária, levou os consumidores americanos a pagar o equivalente a R$ 60 por dúzia.
Atualmente, as exportações não impactam significativamente os preços internos, já que representam menos de 1% da produção brasileira. No entanto, Scarpelin alerta que um prolongamento desse cenário pode influenciar a oferta doméstica, elevando ainda mais os preços.
O consumo de ovos no Brasil continua crescendo. Em 2023, a média foi de 242 unidades por pessoa, aumentando para 269 em 2024. A previsão é que esse número alcance 272 unidades por pessoa em 2025.
