Apesar do impacto das tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos, os países membros do Brics não estão buscando uma resposta conjunta contra essas medidas. Segundo Antonio Freitas, subsecretário de finanças internacionais e cooperação econômica do Ministério da Fazenda, as reuniões técnicas do bloco não têm abordado o tema de forma estruturada.
Divergências Internas e Autonomia dos Membros
Freitas ressalta que cada nação do Brics possui uma relação própria com os EUA e interesses distintos, tornando difícil uma estratégia unificada. Ele enfatiza que o bloco não é homogêneo e que suas nações têm perspectivas variadas sobre o comércio internacional.
Durante um evento em São Paulo, onde apresentou as prioridades do Brics para representantes da sociedade civil, Freitas destacou que, embora não haja uma resposta coordenada contra as políticas de Trump, é provável que o bloco reforce sua posição em defesa do livre comércio em seu comunicado oficial na próxima cúpula.
Posicionamento em Defesa do Livre Comércio
Historicamente, o Brics tem se manifestado a favor do sistema multilateral de comércio e da Organização Mundial do Comércio (OMC). Segundo Freitas, a defesa de um mercado aberto continua sendo uma prioridade, mas sem indicação de ações coordenadas contra os EUA.
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Moeda Comum: Um Debate Fora da Agenda?
Outra questão recorrente sobre o Brics é a possibilidade de criação de uma moeda comum alternativa ao dólar para facilitar transações entre os membros. No entanto, Freitas esclarece que não há discussões concretas sobre essa ideia.
Ele argumenta que, dada a diversidade econômica dos países do bloco, com diferentes regimes cambiais e políticas monetárias, uma moeda unificada seria extremamente complexa de implementar. Embora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha sugerido a ideia, ela encontra resistência, especialmente dos EUA, que ameaçam tarifas de 100% caso o plano avance.
Prioridades do Brics na Economia Global
Entre as principais pautas econômicas do bloco, destacam-se:
- Facilitação do comércio e investimentos entre os países membros.
- Melhorias nos sistemas de pagamento para ampliar as transações internacionais.
- Coordenação em organismos financeiros globais para fortalecer a influência do grupo.
- Expansão do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), que já conta com liderança da ex-presidente Dilma Rousseff.
Expansão do Brics e Novos Desafios
O Brics expandiu sua composição recentemente, agregando Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã e Indonésia. Essa ampliação aumentou o alcance geopolítico do grupo, mas também impõe novos desafios para a convergência de interesses.
Freitas compara a situação com o G20, onde o Brasil conseguiu avanços significativos na sua presidência. No entanto, ele reconhece que a maior diversidade dentro do Brics pode dificultar consensos.
Embora o Brics não esteja mobilizando uma resposta coordenada contra a política comercial dos EUA, o bloco segue reforçando sua posição em defesa do livre comércio. A discussão sobre uma moeda comum continua sendo remota, e o foco está em melhorar a cooperação econômica entre seus membros. Com a recente expansão, o grupo enfrenta novos desafios para alinhar interesses e fortalecer sua presença global.